Lilith um mito primordial do feminino, surgiu entre
os sumérios a 3000 a.C na Mesopotâmia, onde atualmente se localizam o Iraque e
o Kuwait.
Seu nome vem da palavra "Lil", que significa "ar",
mas o termo mais antigo associado a ela é Lili, que quer dizer
"espírito". Em princípio, foi uma deusa muito cultuada na Mesopotâmia
e comparada à lua negra, à sombra do inconsciente, ao mistério, ao poder, a
magia, ao silêncio, à sedução à fecundidade e à tempestade, representando um
aspecto da Grande Deusa e os grandes mitos da criação.
As figuras da Grande Deusa se manifestaram em diversas culturas: no
Egito temos Nut, a Mãe-Céu que representava toda a esfera celeste; Maya na
Índia e Ishtar na Babilônia.
Lilith foi frequentemente representada com cabelos longos, asas,
corpo sensual e pés em forma de garras de coruja, denotando sua sabedoria.
Porém ela acabou sendo relegada ao papel de demônio na antiga religião judaica,
que data de alguns milênios. De acordo com os hebreus, ela teria sido a
primeira mulher de Adão, e não Eva. De acordo com o folclore hebreu tanto Adão
quanto Lilith foram criados do mesmo barro e a partir de um momento, Lilith
rejeitou Adão porque ele tentou forçá-la a ocupar uma posição submissa, não só
no relacionamento como também no sexo. Para ela, ambos deveriam ter direitos
iguais já que tinham sido criados do mesmo barro. Adão não aceitou as
reivindicações de Lilith e ela se rebelou, e com seus poderes mágicos voou para
o Mar Vermelho pondo um fim a essa união. Só então veio Eva, a segunda mulher
de Adão, que foi criada da costela de Adão, denotando sua inferioridade com
relação a ele e que inclusive foi responsabilizada pela tentação de Adão de
comer do fruto da Árvore do Conhecimento, causando a queda do Paraíso.
Podemos perceber através de passagens bíblicas tão significativas a
construção cultural do patriarcado e de que Deus é Pai, ou seja, um princípio
masculino, e o tamanho da encrenca que sobra para a mulher.
A imagem de Lilith foi sendo cada vez mais associada a poderes demoníacos à
medida que os valores patriarcais foram ganhando força e passaram a dominar os
cenários da vida humana.
Também podemos abordar a história da mulher através dos tempos nos
cenários econômico, social e político. Vamos lá!
Por muitos milhares de anos, o Homo Sapiens sobreviveu da coleta de
frutos, raízes e sementes e da caça de animais silvestres. Mulheres e homens
trabalhavam juntos pela sobrevivência, eram essencialmente nômades e havia
igualdade de gênero. Ou seja, não havia distinções hierárquicas entre homens e
mulheres, e as relações estavam baseadas em princípios coletivos. As mulheres
amamentavam por muito tempo seus bebês, o que diminuía o índice de gravidez, e
assim, o excesso de população nos grupos. Não havia reivindicação quanto à
paternidade das crianças e o convívio era pelo bem coletivo e sobrevivência do
grupo.
Na revolução agrícola, por volta de 10.000 anos atrás, começou o cultivo
de milho, trigo, mandioca, cevada e feijão, de acordo com cada região, e assim,
foi sendo criado um excedente de alimentos que podia ser armazenado, dando um
pouco mais de segurança aos humanos da época. Muitos grupos, antes nômades,
começaram a se fixar mais e mais nos lugares de plantio e lentamente foram
formando aldeias. Com o excedente de alimentos, as mulheres podiam procriar
mais e tinham que ficar em casa cuidando da prole por mais tempo o que foi
gerando o aumento da população demográfica. Com o tempo, os humanos foram se
apropriando de terras e criando a concepção de propriedade privada. Assim, os
homens começaram a reivindicar a paternidade dos filhos, para garantirem que
suas propriedades permanecessem na família. Deste modo, pouco a pouco, a mulher
foi sendo pressionada e proibida de sair de casa e se tivesse relações com
outro homem era severamente punida até com a morte.
Deste modo, a mulher foi totalmente subjugada, considerada um ser
intelectualmente inferior, propriedade do pai e depois do marido, e tinha a
obrigação de obedecer ao homem. Era totalmente excluída de qualquer espaço de
decisão, tanto na área religiosa, quanto social e política e foi colocada num
lugar insignificante, ameaçador, vulnerável, sujeita a subserviência e a terríveis
punições caso desacatasse as leis e códigos dos sistemas aos quais pertenciam e
que atendiam cada vez mais a estrutura patriarcal de poder.
Na Idade Média, com a Inquisição Católica e até os dois primeiros séculos da
Idade Moderna, XVI e XVII, houve uma perseguição brutal às mulheres, inclusive
pelos protestantes (puritanos) nos EUA.
Elas foram demonizadas, consideradas bruxas, torturadas e mortas aos
milhares. A justificativa era que a mulher era intelectual e fisicamente
inferior, ignorante, carecia de racionalidade, era fofoqueira, temperamental e
provocava os desejos da carne no homem (acreditem se quiser...). Por isso era
considerada uma vítima muito fácil de Satanás e por ele facilmente influenciada
e possuída. Além disso, eram acusadas por trazer má sorte nas colheitas e a
induzir a população à miséria, doenças e pragas. Na verdade, a maior parte
dessas mulheres eram viúvas, parteiras, tratavam a população com ervas
medicinais, viviam a margem da sociedade e tinham que lutar para sobreviver.
Como podemos observar a trajetória da história da mulher tanto do ponto de
vista religioso, quanto social e político foi, eu diria, horripilante!
Isso só vem mudando desde a metade do século XX com muitas lutas e ainda
há muito que melhorar!
“O feminismo é a
noção radical de que as mulheres são seres humanos.” Cheris Kramarae

Nenhum comentário:
Postar um comentário